Assim como acontece em outras mídias, os Animes passam por ondas em que é predominante algum tipo de narrativa. Ultimamente tenho observado bastante a presença do que eu chamo de "narrativa do arrependimento” que se trata de uma trama que é toda baseada em algum arrependimento acontecido no passado e que geralmente há uma volta no tempo para tentar corrigir tudo. Vamos então conhecer um pouco desse tipo de narrativa e entender como ela vem se consolidando no mercado japonês.
Antes de começar a ler, atenção!!! Este post contém spoilers dos animes:
- Madoka Magica e Charlotte -> Spoilers fortes que podem impactar a experiência ao assistir!!!
- Erased -> Spoilers Médios -> Os spoilers não revelam tanto sobre a trama. Mas pode incomodar para alguns. :)
- Orange -> Spoilers Fraquíssimos -> Você encontra essas informações na sinopse ou provavelmente nos primeiros episódios (esse ainda não lançou)
O estopim
Madoka Magica (2011) explodiu a cabeça de muita gente e eu acredito que este foi o estopim para a "narrativa do arrependimento" vingar na cabeça dos fãs e das editoras lá no Japão. Logicamente já houveram outras histórias com a mesma temática, mas acredito que Madoka foi um marco tanto por surpreender quem não gostava do gênero Mahou Shoujo quanto por ter conquistado diversos prêmios e louvor. Próximo ao seu final, o Anime teve uma mudança repentina no roteiro onde exibiu que na verdade os episódios passados eram apenas mais uma iteração no tempo da personagem Homura Akemi que sempre tentava voltar no tempo para impedir que Madoka Kaname se tornasse uma garota mágica. O "mau humor" da personagem nos episódios passados foi então explicado, pois Homura já estava vivendo aquela história várias vezes e nunca conseguira impedir Madoka de ser fisgada pelo fofinho e cruel Kyubey.
A continuidade da temática
Nas últimas duas temporadas, dois animes com narrativa semelhante apareceram e fizeram muito sucesso. O primeiro deles foi Charlotte (2015) que conta a história de adolescentes que misteriosamente conseguem manifestar superpoderes (só que eles geralmente são meio falhos, possuem algum tipo de limitação ou desvantagem).
Em certo ponto do roteiro, o personagem principal Yuu Otosaka, cujo o poder principal é roubar o poder de outras pessoas, perde sua irmã em um acidente e acaba se lembrando e reencontrando seu irmão mais velho Shunsuke Otosaka, o qual possuía um poder ocular de voltar no tempo em troca de sempre perder um pouco de visão a cada iteração. Yuu encontra seu irmão cego e descobre que adolescentes como eles estavam sendo caçados pelo governo. Seu irmão tentara sempre voltar no tempo para proteger todos os usuários de superpoderes, porém mais uma vez não havia conseguido evitar que sua irmã morresse. Yuu então rouba o poder de viagem no tempo para resgatar sua irmã mais nova e assim continuar a saga de Shunsuke levando adiante seu arrependimento de nunca conseguir salvar a todos.
O segundo anime que eu tenho a destacar é Erased (ou Boku Dake ga Inai Machi, 2016) que conta a história de Satoru Fujinuma, 29 anos, que possui uma habilidade (fora de seu controle) de voltar no tempo eventualmente para salvar alguma pessoa. Após sua mãe ser assassinada, Satoru sofre mais um “Revival” e volta para época em que tinha 8 anos. Ele vê aí a possibilidade de impedir uma série de assassinatos de meninas que havia acontecido em sua iteração anterior. Ele faz a ligação entre o assassinato das meninas com o de sua mãe e decide começar salvando sua colega de classe Kayo Hinazuki a fim de no futuro impedir a morte de sua mãe pelo mesmo assassino. A série é repleta de idas e vindas no tempo para poder arrumar todos os erros cometidos em outras iterações. O autor até compara a linha do tempo da vida como um rolo de filme, que vai sendo editado e danificado pelas intervenções de Satoru.
A diversidade nos gêneros
Não é apenas no Shounen/Seinen que essa temática está presente e Orange (2016, mangá lançado em 2012) está aí para demonstrar isso. O shoujo que ganhará um anime ainda este ano possui exatamente a mesma estrutura narrativa: Certo dia, Takamiya Naho acorda e recebe uma carta. Tudo estaria ok se a carta não tivesse sido enviada por ela mesma do futuro. A carta contém uma série de instruções para que Naho não se arrependa no futuro. Ela percebe que muitas das instruções estão ligadas a Naruse Kakeru e é justamente ele que sofre inicialmente quando Naho decide ignorar a carta. A garota então decide que vai utilizar a carta como guia para tomar as melhores decisões, mas será que isso é tão fácil quanto parece? ;)
Acho que podemos constatar então que a narrativa do arrependimento, junto com a técnica da viagem no tempo é uma tendência no Japão. Eu adoro esse tipo de narrativa pois ela é bastante flexível fazendo com que cada episódio seja uma surpresa e o futuro (ou novo futuro) seja bastante incerto. Por ser flexível também há o problema de ser bem fácil de se perder dentro das várias linhas temporais, mas os japoneses tem mostrado bastante talento para conduzir esse tipo de enredo.
E vocês, gostam desse tipo de narrativa? Lembraram de algum outro anime que use a mesma estrutura? Comente aí! :D
Revisado pelo Keny Iritsu do futuro... Cuidado com a Skynet!
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